
Muito se ouve falar de crise climática, perda de biodiversidade, e outras questões globais que se tornam cada vez mais urgentes. No entanto, nas últimas semanas, uma temática que tem ganhado mais destaque, e que também deve ser tratada com a mesma urgência das questões anteriores, é o desperdício de alimentos. Isso pois no final de março, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos de 2024, e os dados não são nada animadores.
Segundo o relatório, em 2022, o mundo desperdiçou o equivalente a 1 bilhão de refeições por dia, totalizando 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares, cerca de um quinto dos alimentos disponíveis para os consumidores. Em outras palavras, é como se cada habitante desperdiçasse 132 kg de alimentos por ano.
Porém, é preciso pensar um pouco além. O desperdício em si não envolve só os alimentos, mas sim a perda de todos os recursos envolvidos desde a produção dos mesmos, como água, energia, fertilizantes, mão de obra, combustível, entre outros, os quais possuem também emissões de gases de efeito estufa (GEE) associados a eles. Diversos levantamentos apontam que o desperdício de alimentos representa entre 8-10% das emissões globais de GEE, quase cinco vezes mais que o setor de aviação. E isso sem contar a perda para o bolso, afinal, desperdiçar alimentos é sinônimo também de desperdício financeiro.
Além disso, destaca-se também o fato de que 60% desse desperdício aconteceu no âmbito doméstico, ou seja, dentro de casa. Dada essa magnitude, antes de refletirmos sobre como podemos reduzir o desperdício no nosso cotidiano, é importante diferenciar dois conceitos: perdas e desperdícios. As perdas acontecem no começo da cadeia produtiva, em etapas como produção, pós-colheita, processamento, armazenamento e distribuição dos alimentos, enquanto o desperdício acontece na fase final de tal cadeia, como nos pontos de venda, em restaurantes e dentro de casa.
Dado todo esse panorama e, considerando que quase 800 milhões de pessoas foram afetadas pela fome em 2022, é preocupante que um volume tão grande de alimentos não seja utilizado para o propósito que foi produzido. O lado “positivo” desse cenário é que são números e reflexões como essas que nos fazem repensar nossos hábitos e rever o que podemos fazer para mudar isso, ainda que começando dentro de casa, no trabalho, na comunidade, etc.
Sendo assim, podemos evitar que boa parte desses alimentos sejam descartados dentro de casa, desde a etapa de compra:
- Comprar somente o necessário: pode soar um pouco óbvio, mas ter uma lista de compras ou evitar ir às compras com fome ajuda a adquirir somente aquilo que será consumido, reduzindo eventuais desperdícios.
- Deixar os alimentos mais frescos à vista: como tendem a estragar mais rápido, deixá-los a vista ajuda a serem consumidos antes que percam sua vida útil.
- Utilizar o método FIFO: conhecido como FIFO (first in, first out) ou “primeiro a entrar, primeiro a sair”, esse método nos ensina basicamente a deixar na frente ou em cima das prateleiras os produtos mais antigos, que irão vencer ou estragar antes, e deixar os mais novos e com maior prazo de validade atrás ou embaixo.
- Ler rótulos e prestar atenção nas informações da embalagem: informações como prazo de validade, instruções de armazenamento adequado e duração do produto após aberto devem ser sempre checadas para aproveitar o alimento da melhor maneira.
- Se atentar ao armazenamento na geladeira: isso pois cada parte desse equipamento é ideal para armazenar certos tipos de produto. Por exemplo a parte de cima, na qual a temperatura geralmente é mais baixa, é indicada para alimentos mais perecíveis. Já a parte de baixo é indicada para verduras e legumes, enquanto a porta não é indicada para produtos perecíveis, pois há alteração da temperatura com maior frequência.
- Congelar os alimentos em porções: ter que descongelar totalmente um alimento muitas vezes é sinônimo de desperdício, afinal, não é recomendável congelá-lo novamente. Assim, o congelamento em porções faz com que se utilize apenas a quantidade desejada naquele preparo.
- Reaproveitar sobras: em um país como o Brasil, onde a cultura da fartura predomina, como o famoso “é melhor sobrar do que faltar”, é fundamental reaproveitar as sobras seja fazendo uma nova refeição posteriormente, seja fazendo um novo preparo. O importante é que aquilo que sobrou, seja aproveitado de alguma forma.
Essas são só algumas das diversas dicas que podemos aplicar no a dia a dia para reduzirmos o desperdício de alimentos dentro de casa. Em um cenário de insegurança alimentar e em que parte dos alimentos já são perdidos antes mesmo de chegarem nos pontos de venda, é fundamental que nós, como consumidores e cidadãos, busquemos fazer a nossa parte, dentro do que cabe no contexto de cada um, afinal, reduzir o desperdício de alimentos é bom para nós, para o meio ambiente e para sociedade.
Referências: Nações Unidas I Primeiros Passos I Embrapa